Anbiotec

Série de reportagens revela como a ciência brasileira supera obstáculos

Thursday, December 10, 2020

Yes, nós temos pesquisa de qualidade. Em tempos de cortes de despesas públicas em pesquisas e desenvolvimento e redução das verbas das universidades, de vez em quando a sociedade descobre, em casos isolados retratados pela imprensa, um exemplo ou outro do que o cientista brasileiro é capaz, mesmo em condições adversas de temperatura e pressão. Agora mesmo, o site Tilt, canal de tecnologia do site UOL, revela os caminhos trilhados pela cientista “Ana Paula Fernandes, a bióloga que criou o diagnóstico nacional para a covid-19”. 

Cientista, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais, Ana Paula é uma das personagens de destaque na série de reportagens “Made in Brazil – Os cientistas que brilharam na pandemia”, produzida pelo Tilt. Vale a pena conferir as dez histórias apresentadas. A conclusão mais óbvia demonstra que, mesmo com todos os desafios pela frente, em um país que coloca as ciências na coluna de despesas e não de investimentos, há quem resista bravamente para sobreviver e manter a esperança em relação ao futuro.

O leitor vai encontrar múltiplos enfoques das jornadas de heróis e heroínas na produção de resultados científicos que contribuem para o bem-estar da sociedade. Do cientista Edson Durigon, que cultiva o coronavírus para que todos avancem até o médico Jorge Kalil, que busca um spray nasal como vacina para o combate ao vírus. Passando pela médica Estes Sabino, que agilizou o sequenciamento. Há os abnegados, como Felipe Naveca, que perdeu o pai na luta, mas se manteve no campo de batalha, ou a médica Patrícia Rocco, uma especialista em pulmões que bancou estudos com recursos próprios para manter pesquisas. 

A matéria sobre Ana Paula Fernandes conta como ela liderou pesquisas voltadas à identificação do coronavírus. Atenta, ela se antecipou às informações sobre o surgimento e expansão da doença. E em fevereiro já coordenava a rede de diagnósticos criada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) na UFMG, com participação da Fiocruz e Instituto Butantã. 

Formada em biologia, especialista na biologia molecular de diagnósticos e vacinas, Ana Paula é reconhecida por suas pesquisas para combater a leishmaniose, que levou a diagnósticos, tratamentos e até vacinas — ela é uma das responsáveis pela vacina Leish-Tec, contra a leishmaniose canina. Com resultados evidentes para mostrar, ela assinala que fazer pesquisa no Brasil ainda é muito difícil, porque não há um investimento permanente e sólido. “Hoje investimentos muito em covid, mas e as outras doenças”, questiona, enquanto revela preocupação com a queda contínua dos investimentos em ciência. 

A biotecnologia em evidência

Vanessa Silva da Silva, presidente da AnbiotecBrasil, considera essencial a disseminação dos conhecimentos sobre desafios como os de Ana Paula Fernandes e dos outros nove cientistas e médicos retratados pela série do site Tilt. “Precisamos mostrar mais o que as universidades produzem”, afirma. Se há um aspecto positivo da pandemia foi o fato de que o mal deu visibilidade para o papel da ciência, inclusive para a biotecnologia. Por conta da pandemia, a sociedade está aberta para entender que algumas soluções em ciência e tecnologia estão mais prontas para  chegar de forma mais rápida à sociedade.

Vanessa avalia, ainda, que o isolamento, o número de doentes e de mortes pelo mundo e a necessidade de encontrar vacinas capazes de possibilitar algum nível de normalidade de rotinas são variáveis que favorecem a divulgação do papel da biotecnologia, como ramo da ciência essencial para a solução de demandas sociais. “O processo reforçou a expectativa de que os avanços sejam acelerados. Inclusive melhor percebidos pela sociedade, que nem sabe que algumas soluções para demandas de saúde, por exemplo, já estão disponíveis”, diz a presidente da Anbiotec. 

No cenário regido pelo mercado, que raramente prioriza o básico, ou essencial, e foca em oportunidades de apelo comercial, as ciências da vida precisam de apoio e pressões políticas para viabilizar o desenvolvimento de novos produtos. De qualquer forma, a corrida pela vacina deu alguma notoriedade ao segmento, como fonte de solução para os problemas atuais e do mercado.