A Associação Nacional de Empresas de Biotecnologia encerrou uma proveitosa passagem por Pernambuco. Na última semana, iniciativas associadas à Anbiotec tiveram a oportunidade de apresentar seu portfólio de produtos na Feira HospitalMed, realizada no Centro de Convenções do estado. Em paralelo ao evento, a instituição realizou seu III Fórum de Inovação e se aproximou de relevantes atores locais, do setor público e do setor privado, estabelecendo parcerias e novas prospecções de acordos.
“A Anbiotec Brasil vem ampliando sua atuação no Nordeste, levando a voz da biotecnologia, levando mais inovação e fortalecendo a região com tudo que pode ser oferecido por esse setor. Nossa presença em Pernambuco foi de grande importância, não somente ao participar da HospitalMed, mas ao reafirmar e estabelecer cooperações com atores locais”, comenta Vanessa Silva, presidente da Anbiotec.
Nesse sentido, ela destaca o vigente acordo com o Governo de Pernambuco, firmado em 2021, e o avanço para os novas cooperações envolvendo a Universidade Federal de Pernambuco, o Hospital das Clínicas, o Instituto Tecnológico das Cadeias Biossustentáveis (ITCBio) e o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene).
“Além disso, estamos nos aproximando do Porto de Suape para uma cooperação estratégica, com intuito de trabalhar a biotecnologia brasileira com apoio da Anbiotec Brasil, fortalecendo as startups, iniciativas locais, inovações, junto com toda nossa inteligência e tudo mais que fazemos no Brasil”, completa Vanessa Silva.
Durante o Fórum de Inovação Anbiotec, realizado na última quinta-feira, a instituição realizou um debate junto às instituições com as quais firmou novos acordos de cooperação. Superintendente do Hospital das Clínicas, Filipe Carrilho frisou a oportunidade posta diante das instituições para gerar conhecimento e entregá-lo para a sociedade.
“O orçamento restrito do hospital universitário nos obriga a inovar, ampliar os horizontes, para encontrar formas de financiar o hospital público. A gente entende que ampliar essa parceria só traz maiores benefícios para a instituição, como melhorar na condição de funcionamento”, disse o representante do HC.
Giovanna Machado, presidente do Cetene, completa: “As parcerias são fundamentais para os dois lados, o cientista precisa entender os gargalos e demandas do setor para ser um catalisador de transformações tecnológicas. A gente faz ciência para a sociedade, para melhorar a qualidade de vida. A parceria é fundamental nesse sentido, entendemos o que cada uma das empresas quer desenvolver e onde quer chegar”.
Bianca Bragato, country manager da Meridian, comentou sobre a expectativa da chegada da empresa no Brasil e apresentou as principais propostas de inovação dessa indústria. “Chegamos com uma expectativa muito alta, porque o Brasil é um país continental, tem enorme relevância na América Latina, onde já estamos presentes. Agora, temos dedicação especial por conta do tamanho das oportunidades de negócio. É uma honra estar presente na Feira HospitalMed, juntamente com Anbiotec”, disse a diretora.
Para além do Fórum, a ilha de exposição da Anbiotec esteve aberta durante toda a HospitalMed. O estande da associação foi um dos destaques da feira, reunindo novidades de quatro renomadas empresas de biotecnologia aplicada na medicina: a In Vitro, a BioClin, o GT Group e a Vida Biotecnologia. Os expositores celebraram as vendas e networking promovidos pelo evento.




“A feira superou as expectativas, tanto de estrutura quanto de público. Nós tivemos muitos clientes, negócios encaminhados”, comentou Elcio Santana, representante da Bioclin/Quibasa. Matheus Machado, supervisor de compras da GT Group, completa: “A feira é importante pela experiência de mercado. (…) A parceria da Anbiotec conosco, que nos disponibilizou a ilha, também foi legal. O pessoal está muito satisfeito”.
Lúcia, assessora científica da In Vitro, estava com grandes expectativas sobre a HospitalMed. “Registramos bastante público com muitos distribuidores e muitos donos de laboratório. A gente apresentou um portfólio seletivo, de coagulação, de testes rápidos”. Milene Vaccari, da Santos Distribuidora, empresa que integra a Vida Biotecnologia, destaca que desde a abertura, teve a oportunidade de expandir o networking da sua organização: “A feira foi excelente, apresentamos equipamentos e reagentes de bioquímica e hematologia”.
Fórum de Inovação e a necessidade de cooperação entre empresas e setor público
As empresas associadas à Anbiotec apresentaram suas inovações para a área de saúde e biotecnologias para outros negócios do setor e ainda dialogar com o poder público, reforçando a necessidade de atuação conjunta entre a iniciativa privada, o Governo e o terceiro setor.
Nesse sentido, Rafael Figueiredo Bezerra, Chief technology officer da Prefeitura do Recife, destacou a necessidade de desenvolver-se a chamada “tripla hélice” da inovação. O termo faz referência à cooperação necessária entre as empresas, as universidades e o governo, seja ele no âmbito municipal, estadual ou federal.
Angella Mochel, diretora executiva de negócios e projetos de desenvolvimento da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe), representou o Dr. Roberto Abreu no encontro. Ele estava em viagem ao lado do governador Paulo Câmara para trazer novos empreendimentos ao estado.
“É um trabalho de inteligência de negócios, direcionado à captação de novas empresas e iniciativas, visando o fortalecimento dos arranjos produtivos de todo o estado. Trazer empresas com desenvolvimento da biotecnologia é importante. Para isso, a Adepe começou a transformação digital… Estamos aprendendo com a Anbiotec para dialogar com o setor e atrair novos negócios”, disse Mochel.
Marcelo Neves, diretor de metrologia aplicada às ciências da vida Inmetro, em tempo, salientou a necessidade de cooperação diante da crise da covid-19, classificada por ele como a ponta do iceberg da fragilidade da política industrial nacional. Ele também salientou a necessidade de diminuir o burden regulatório e afirmou que a indústria do futuro é a baseada na biotecnologia.
“Serão processos mais limpos, que dependem da capacidade de avaliar os produtos. É um papel do Inmetro, é uma instituição de ciência e tecnologia. O processo de medir é o pilar de tomar decisão de processos, para formar critérios. A medição precisa ser boa para uma decisão crítica. Nossa ideia é trazer os atores para perto, ser uma ferramenta para ajudar nos problemas com processos industriais. Não é ser o Inmetro regulador de cadeira monobloco e capacetes, é ser parte da comunidade de institutos de metrologia”, comentou.
Confira o resumo completo do Fórum:
O evento foi conduzido por Vanessa Silva, presidente da Anbiotec, e Cláudio Nascimento, Cláudio Nascimento, diretor de articulação institucional e projetos estratégicos da associação.
Painel 1: Tendências Biotec
No primeiro painel, empresas associadas à Anbiotec apresentaram suas principais apostas para inovação na área da saúde.
A In Vitro destacou a importância da biotecnologia como área da indústria nacional, mas destacou também que o marketing e ações institucionais são parte importante para promover um ambiente de inovação.
Bianca Bragato, country manager da Meridian, falou sobre a chegada da empresa ao Brasil e apresentou produtos desenvolvidos para inovação no atendimento à distância de testes para helicobacter pylori e também um produto chamado LeadCare, desenvolvido para detectar de forma mais rápida uma contaminação por chumbo. Também mostrou o projeto do Revogene – Real time PCR, para teste de covid, que poderia estar presente em qualquer farmácia.
A Quibasa Química Básica – Bioclin apresentou sua linha de testes e produtos de imunologia para área veterinária. Além de um novo kit, destacou estudo com o Ministério da Saúde para o combate à hanseníase, que resultou na criação do ML Flow Hanseníase. Trata-se de um teste rápido sorológico inédito, mais rápido, feito com apenas um furo.
O GT Group destacou a recente união com a Renylab, numa fusão que resultou numa grande empresa nacional. Além disso, destaca-se a construção da sua nova planta industrial da Vida Biotecnologia, num complexo classificado pela empresa como o mais tecnológico da América Latina. Ele fica em Belo Horizonte, Minas Gerais, e está aberto a visitações.
Apresentação dos novos parceiros da Anbiotec
Vanessa Silva recebeu no palco representantes dos novos parceiros da Anbiotec. A presidente da associação destacou que Pernambuco, no início das operações, abriu as portas para a instituição, que nasceu em 2010. Ela provocou os convidados a comentar sobre como suas respectivas instituições poderiam ajudar a cadeia produtiva da biotecnologia.
Cláudia Lima, do Instituto Tecnológico das Cadeias Biossustentáveis (ITCBio), destacou que uma das bandeiras da instituição é a nacionalização da produção de insumos para a saúde. “Estamos instalando três biofábricas de bioinsumos em três estados do Nordeste. A palavra de ordem, pra gente, é parceria, seja pública ou privada, porque entendemos que a sociedade será a principal beneficiária dessas parcerias”, comenta.
Filipe Carrilho, Superintendente do Hospital das Clínicas, frisou a oportunidade posta diante das instituições para gerar conhecimento e entregá-lo para a sociedade. “O orçamento restrito do hospital universitário nos obriga a inovar, ampliar os horizontes, para encontrar formas de financiar o hospital público. Ampliar as parcerias para entregar mais para a sociedade, transformando um orçamento insuficiente num orçamento efetivo”, explica.
Ele completa ressaltando a expertise de profissionais pesquisadores para testar e validar pesquisas e de matéria para testar soluções. Nesse sentido, é possível consumir insumos produzidos pela cadeia produtiva e validá-los. “A gente entende que ampliar essa parceria só traz maiores benefícios para a instituição, como melhorar na condição de funcionamento. Quanto mais acordos de cooperação a gente puder construir para abrir as portas do ambiente hospitalar, melhor. Essa é a visão que temos e encaramos essas possibilidades”, afirma.
Giovanna Machado, presidente do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), destacou que, enquanto cientista, julga como importantes as colaborações e parcerias entre diferentes instituições.
“O objetivo e missão de um pesquisador e do ministério é gerar riquezas para o país e melhorar a qualidade de vida do brasileiro. As parcerias são fundamentais para os dois lados, o cientista precisa entender os gargalos e demandas do setor para ser um catalisador de transformações tecnológicas. A gente faz ciência para a sociedade, para melhorar a qualidade de vida. A parceria é fundamental nesse sentido, entendemos o que cada uma das empresas quer desenvolver e onde quer chegar”, pontua.
Painel 2: Desafios Biotec
Nesse painel, debateu-se a necessidade de desenvolvimento da planta industrial no Brasil, com destaque aos problemas enfrentados durante a pandemia de covid-19 para produção de insumos e materiais de combate à disseminação do vírus. A moderação foi de Luiz Eduardo Costa, Diretor de Assuntos Regulatórios da ANBIOTEC Brasil.
Paulo Antonino, que representou a Anvisa, considera que a covid-19 mostrou a fragilidade do Brasil diante do processo de desindustrialização, conduzido desde a década de 1990. “Temos a necessidade de melhoria da infraestrutura e da política de segurança biológica”, pontuou.
Rafael Bezerra, CTO da Prefeitura do Recife, enfatizou a necessidade de inovação e ‘ousadia’ na gestão pública. Citou o Marco Regulatório das Startups, destacando a necessidade de estimular um ambiente de inovação aberta para solução de problemas, num formato mediado pelo poder público. “A Covid criou a cultura de desafiar o status quo, de ver que estamos em guerra o tempo todo, o que nos leva a sempre buscar inovação”, disse.
José Eduardo, assessor de assuntos regulatórios da Hemobrás, pontuou que a crise causada pela pandemia demonstrou a fragilidades da sociedade enquanto humanos e enquanto brasileiros. “Não temos acesso fácil às coisas simples, quem dirá às complexas. Isso escancarou a falta de uma indústria nacional forte. (…) A gente precisa se preparar para uma eventual nova crise. A parceria público-privada é extremamente importante, o setor público, sozinho, não vai conseguir dar conta de todas as atividades. É muito necessário o trabalho que a Anbiotec faz, de junção de forças”.
Marcelo Neves, diretor de metrologia aplicada às ciências da vida Inmetro, completou o raciocínio dos colegas. Ele considera a covid-19 como a ponta do iceberg sobre a fragilidade da política industrial. “Quando as cadeias de suprimento internacionais foram suspensas, levamos muito tempo para uma resposta. Levando em conta que o Brasil é produtor de ciência de ponta nessa área, percebe-se que o capital humano está aqui, mas por algum motivo a planta industrial, não”.
Ele também salientou a necessidade de diminuir o burden regulatório e afirmou que a indústria do futuro é a baseada na biotecnologia. “Serão processos mais limpos, que dependem da capacidade de avaliar os produtos. É um papel do Inmetro, é uma instituição de ciência e tecnologia. O processo de medir é o pilar de tomar decisão de processos, para formar critérios. A medição precisa ser boa para uma decisão crítica. Nossa ideia é trazer os atores para perto, ser uma ferramenta para ajudar nos problemas com processos industriais. Não é ser o Inmetro regulador de cadeira monobloco e capacetes, é ser parte da comunidade de institutos de metrologia”.
Ramon Vieira, Coordenador do Setor de Medicamentos e Produtos para Saúde da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), trouxe uma perspectiva local ao debate. Ele considerou que a própria Anvisa teve papel de interceder para que empresas adentrassem na área de produção de produtos importantes para o combate à pandemia, no sentido de evitar um colapso geral.
“Algumas empresas entraram na área e atuam até hoje nesse papel. Essa interface entre órgão regulador e setor regulado é importante para o desenvolvimento do nosso país. A Apevisa, enquanto vigilância estadual, realiza trabalhos de fiscalização, mas também de orientação e parceria com as empresas no sentido de estimulá-las”, comentou Ramon.
Painel 3: Futuro Biotec
No terceiro painel, mediado por Cláudio Nascimento, diretor de articulação institucional e projetos estratégicos da Anbiotec, a discussão foi sobre responsabilidade econômica e social. Representantes de instituições do poder público debateram sobre a necessidade de fomento à inovação através de diferentes modalidades de financiamento e cooperação.
Paulo Resende, gerente regional para o Nordeste da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) destacou os editais da instituição voltados ao fomento de projetos através de recursos não reembolsáveis. “São programas que a Finep deposita confiança”, comenta.
José Menezes, Gerente de Relações com o Mercado da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), explica que a instituição nasceu de uma parceria da indústria com o poder público federal, supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Trata-se de uma rede com 77 centros de pesquisa e inovação, para empresas de todos os setores.
Menezes ainda destacou que o intuito da empresa é ajudar no desenvolvimento de ideias com velocidade e apoio das políticas públicas. “A gente chega junto e banca no mínimo um terço ou metade do projeto de P&D. No Sebrae, a cobertura chega a 70%. É sobre mitigar o risco tecnológico para o empreendedor”, explica.
Carlos Eduardo Rocha, analista sênior de gestão em saúde e coordenador do Acordo Internacional IOC/Fiocruz e Universidade de Aveiro (Portugal), enfatizou a intensificação do contato da instituição com o setor privado e a associação às unidades técnico-científicas no país. Ele também destacou a nova plataforma instalada em Aveiro, Portugal.
Angella Mochel, diretora executiva de negócios e projetos de desenvolvimento da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe), representou a instituição. “É um trabalho de inteligência de negócios, direcionado à captação de novas empresas e iniciativas, visando o fortalecimento dos arranjos produtivos de todo o estado. Trazer empresas com desenvolvimento da biotecnologia é importante. Para isso, a Adepe começou a transformação digital… Estamos aprendendo com a Anbiotec para dialogar com o setor e atrair novos negócios”, disse.
César Andrade, diretor de políticas de CT&I e competitividade da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco, destacou o esforço da Anbiotec para conectar representantes do setor. “É preciso pegar essa ‘sopa de letrinhas’ formada pela Anbiotec mais startups e empresas e transformar isso em colaboração. Dentro desse contexto, a política pública é essencial”, disse. Nesse sentido, ele destacou programas como o Lócus para fortalecimento da tríplice hélice da inovação, que é um processo de conexão para desenvolvimento de soluções.